domingo, 31 de julho de 2011

trilogia de Barcelona, livro três

- Porquê? São os nossos.

- Justamente. O partido socialista é o partido dos fracassados e dos pataratas como nós. Primeiro quisemos fazer a revolução e acabámos por ficar com Estado do bem-estar. Eu voto socialista, evidentemente, os outros são piores. É mesmo possível que o PSOE volte a ganhar. Mas como vai ganhar com o voto dos inúteis, continuará a agir mal e durará pouco. – Bebeu um gole de cerveja e continuou: - O partido socialista baseia-se na falta de ideias. Nem a santa tradição nem a revolução permanente. Apenas gestão e distribuição. Pouco estimulante, excepto se for novidade, como em Espanha. Tudo nos parece bem, comparado com o que tivemos. Mas assim que nos habituarmos, veremos que por trás da prática diária não há nada. Pior, veremos o seu interior e não iremos gostar. Um governo sem ideologia tem de manter um nível muito alto de eficiência e de honradez, e isso não está ao alcance de ninguém. Assim que puserem a casa em ordem e as pessoas virem que pouco ou nada muda, aparecerão as velhas retóricas e afastar-nos-ão. Embarcar com eles é atirar-se de cabeça para o fracasso. Isto no que se refere aos socialistas em geral. Aqui o panorama é ainda pior. A Catalunha é ingovernável. Durante séculos funcionámos como nos apeteceu, sem corpo político, e não estamos preparados para participar numa estrutura de poder. Estamos habituados a viver na periferia de um Estado incompetente e a sobreviver à base de pactos secretos, acordos tácitos e de tramóias dissimuladas, sob o véu de um nacionalismo sentimental, autocompassivo e autocomplacente.



Eduardo Mendonza, “Maurício ou as eleições sentimentais”, edições Asa.


Quem fala assim chama-se Clotilde, a minha mais interessante homónima na ficção. Foi preciso reconciliar-me com o nome para Mendonza ma entregar. Em miúda segui o rasto a toda e qualquer Clotilde que não tivesse mais de 80 anos. A lista é pequena, embora já na adolescência tenha havido glória, com Chloé de “A Espuma dos Dias”, de Boris Vian.
A criança cabeçuda e escanzelada com aparelho nos dentes que fui agradeceu muito que Maité Proença tivesse sido Clotilde. Era a professora primária da novela “Sassá Mutema”, a adaptação portuguesa do título “Salvador da Pátria”. A propósito, todas as novelas brasileiras com a palavra “pátria” no título tiveram em Portugal nomes distintos e, às vezes, também temas de genérico diversos. Foi o caso de “Pátria Minha”, uma ótima narrativa sobre a honestidade na era pós-Collor de Mello. Não havia Clotildes, Alice e Rodrigo (Claúdia Abreu e Fábio Assunção) eram o par romântico.
Na novela Ti-ti-ti (atualmente em remake) havia uma Clotilde, mas era uma personagem secundária. Também conto com a vaca Clotilde da Rua Sésamo, essa adorável one hit wonder.

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